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 Resumos

RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES | CLIQUE AQUI PARA BAIXAR O CADERNO DE RESUMOS
 

AFRESCO, PRISMA E SINFONIA: EM TORNO DO CAPÍTULO VI DE OS MAIAS

Alana Freitas El Fahl (UEFS)

A obra de Eça de Queirós, dentre tantas outras possibilidades, pode ser considerada como um painel social que reflete as tensões culturais do final do século XIX em Portugal. O Crime do Padre Amaro (1875), O Primo Basílio (1878) e Os Maias (1888), considerados a tríade realista, se mostram como um espelho lisboeta, que pode ser vista também como metonímia da humanidade com toda sua complexidade. São narrativas nas quais o autor tece críticas ácidas contra a sociedade através das fragilidades de suas instituições basilares como a igreja, o casamento e a família. Através dessas grandes cenas temos através das partes, o todo de uma sociedade em crise. É objetivo desse nosso trabalho estabelecer uma leitura do capítulo VI de Os Maias, analisando como esse capítulo funciona dentro da obra como uma condensação dos temas principais presentes nesse grande romance e em alguma medida como metonímia de todo seu projeto literário. Para nossa discussão tomaremos como principal referencial crítico os estudos de Pires de Lima (1987), Lourenço (1994), Reis (2000) e Garmes (2009).

Palavras-chave: Os Maias, Eça de Queirós, Capítulo VI.

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O VALOR DUM MONÓCULO: A REPRESENTAÇÃO FÍSICA DO IRONISTA JOÃO DA EGA

Ana Luísa Vilela (Un. de Évora/ CLP-FLUC)

Instrumento de perscrutação, o monóculo de Ega é, também, um operador físico da atividade hermenêutica a que, n’Os Maias, esta personagem frequentemente se dedica; trata-se, aliás, de uma hermenêutica reversível, porque Ega se apresenta, ao mesmo tempo, como figura legível e observável. Através de múltiplos processos, Ega representa, no romance, o espirituoso de serviço (ou, como na comédia do Siglo de Oro, o gracioso). Integrando, ainda, alguns traços autocaricaturais do autor, João da Ega é uma personagem que quer ser considerada personagem, e personagem estereotipada, ainda por cima: um Mefistófeles premeditado. O estereótipo mefistofélico corresponderá à encarnação - ela própria irónica e polivalente - da instância representativa da ironia no romance. De facto, a sua representação física é, em larga escala, condicionada pelas figuras da autoficção e do pastiche, da contrafação, da hipérbole, da antítese e da justaposição intempestiva de elementos contraditórios. Ora tais figuras, concentradas na representação física de João da Ega, correspondem, com flagrância, às figuras temáticas da semiose oblíqua, típica, segundo Philippe Hamon, do discurso irónico. Usando de forma bastante livre o modelo de análise da encarnação romanesca proposto por Francis Berthelot, e lançando mão de autores como Machado da Rosa, Philippe Hamon, Alan Freeland ou Daniel-Henri Pageaux - procuraremos aqui refletir sobre a representação física de João da Ega e sobre o modo como a corporalidade romanesca pode acomodar-se ao desempenho das funções particulares desta personagem no romance.

Palavras-chave: João da Ega; Encarnação romanesca; Discurso irónico.


 

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A MÃE E A NEGREIRA: RETRATOS OUTROS DE MULHER EM OS MAIAS

Andrea Bittencourt (UFPR)

Em Os Maias (1888), de Eça de Queirós (1845-1900), a despeito de a narrativa se desenvolver em torno da história da família que dá título à obra, a ênfase está na construção de personagens masculinas, como personas de uma sociedade burguesa já em crise, sendo as femininas secundárias. De modo a lançar outro olhar sobre a narrativa, escolheram-se para análise duas personagens femininas que se apresentam como contrapontos de Maria Eduarda – principal representante da mulher – e, curiosamente, possuem relação de sangue com ela, a saber: Maria Eduarda Runa (sua avó) e Maria Monforte (sua mãe). Para embasar a discussão, empreende-se uma comparação entre as características construtivas dessas personagens e o pensamento desenvolvido por Eça em seus primeiros escritos acerca da sociedade portuguesa – com ênfase na classe burguesa – e seus representantes, especificamente, as crônicas redigidas em parceria com Ramalho Ortigão (1836-1915) e que compõem As farpas (1871-1872). Objetiva-se, com isso, identificar a continuidade e/ou transformação das concepções iniciais desse escritor no tocante à mulher, seu papel e sua caracterização. Trata-se de recorte de estudo mais aprofundado, desenvolvido no mestrado da autora.

Palavras-chave: Personagem feminina, Burguesia portuguesa, Os Maias.

 

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(ANTI) CLERICALISMO E (ANTI) RELIGIOSIDADE EM OS MAIAS

Antonio Augusto Nery (UFPR)

Para além de menções e críticas negativas à Religião, à religiosidade e aos religiosos, ou a questões de crença e de fé, nota-se também  na produção de Eça de Queirós a presença de críticas positivas e/ou apologias positivas a determinadas facetas da religião e dos religiosos que, aparentemente, se queria preservar. Tal constatação tem me feito transcrever o prefixo “anti” entre parênteses, quando me refiro à problemática em suas obras e às obras de outros autores que, em maior ou menor medida, veiculam a temática religiosa em seus escritos. Em Os Maias (1888), discussões em torno do (anti) clericalismo e da (anti) religiosidade aparecem ao longo de todo o enredo, sejam a partir de comentários do narrador, sejam por intermédio da figuração de determinadas personagens, em sua maioria secundárias. O objetivo deste trabalho é averiguar a crítica (anti) clerical e (anti) religiosa presente em Os Maias, considerando sua contribuição para a compreensão da narrativa e seu possível diálogo com outras obras do autor.

 

Palavras-Chave: Eça de Queirós, Os Maias, (Anti) clericalismo; (Anti) religiosidade.

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OS MAIAS E L’ÉDUCATION SENTIMENTALE

António Apolinário Lourenço (Univ. Coimbra, CLP, FLUC)

Em 1871, na sua conferência sobre o realismo na arte, Eça de Queirós não sentiu qualquer dificuldade em apontar um modelo para a escrita da ficção realista: Madame Bovary, um romance de Gustave Flaubert, originariamente publicado em 1856 na Revue de Paris. Em 1878, ano da publicação do mais bovarista dos seus romances, O Primo Basílio, e nos anos subsequentes, Eça encontrava-se imergido na concretização de um plano editorial, Cenas da Vida Portuguesa, descrito numa carta que enviara, em 1877, ao editor Ernesto Chardron. Subitamente, porém, quando estava próximo de concluir a redação de obras como a A tragédia da Rua das Flores, A Capital! e O Conde de Abranhos, o romancista abandona esse projeto, que consistia na publicação de romances relativamente breves, destinados a espelhar aspetos diversos da sociedade portuguesa, passando a trabalhar num romance de maior fôlego, que permitiria incluir numa única obra o conjunto dos temas que associara à planificação das Cenas; nas palavras de Eça (em carta a Ramalho Ortigão), onde pretendia meter tudo o que tinha no saco. Na interpretação que faço da decisão de Eça de abandonar a redação de obras que já se encontravam em avançado estado de composição, pesou seguramente a leitura da segunda edição de L’Éducation sentimentale, dada à estampa em 1879. Este romance de Flaubert é, tal como Os Maias, uma obra panorâmica, que coloca em cena toda a movimentação de uma sociedade em decadência e de uma geração ambiciosa e contraditória que vê frustrados os seus sonhos de grandeza e redenção. Esta comunicação permitirá apontar as principais coincidências e divergências entre o romance queirosiano e o seu hipotexto francês, obra do mestre que Eça mais admirava e valorizava.

Palavras-chave: Flaubert, Naturalismo, Rutura.

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O SUMIÇO DE MARIA EDUARDA

Breno Góes (PUC-Rio)

Na noite de 24 de Novembro de 1945, estreou em Lisboa a peça teatral Os Maias, encenada a partir de uma adaptação do romance queirosiano feita pelo intelectual açoriano José Bruno Carreiro. O espetáculo contou, então, com o apoio do Secretariado Nacional de Informação, por ter sido parte integrante das comemorações oficiais do primeiro centenário de nascimento de Eça de Queirós. O trabalho aqui proposto, baseado em documentos oficiais do SNI colhidos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, levanta a hipótese de que o clímax da peça de Carreiro tenha sido censurado pelo próprio filho de Eça e então subdiretor do SNI, António Eça de Queirós, por motivos morais e políticos, e de ter sido essa versão censurada do texto que chegou até nós através de uma edição da INCM em 1984. A consequência mais notável da censura que aqui se alega ter ocorrido seria o inteiro sumiço da personagem de Maria Eduarda no derradeiro ato da peça, como estratégia narrativa para mitigar o impacto da revelação do incesto, que consistia no clímax do enredo romanesco. A análise do episódio em questão pretende ser um estudo de caso a respeito dos fatores políticos que condicionam a leitura da obra ficcional em contextos de exceção, como o Estado Novo salazarista nos anos 1940.

Palavras-chave: Os Maias; Teatro; Estado Novo;

 

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CONSTRUINDO E DESCONSTRUINDO MARIA EDUARDA

Daiane Cristina Pereira (USP)

 

Maria Eduarda é uma das personagens mais emblemáticas de Eça de Queirós e será o foco desse trabalho, em que pretende demostrar como, numa estratégia de velamento e desvelamento, o narrador de Os Maias permite que ela conte sua história. Se num primeiro momento, o narrador se aproxima de Carlos da Maia e dos outros homens do romance, através da estratégia da focalização interna, construindo um ideal amoroso de mulher que responde a um modelo de feminilidade constituído em bases românticas e patriarcais, num segundo momento, o episódio em que Maria Eduarda narra as agruras que vive, como resultado da fuga de Maria Monforte,  e que pode passar despercebido, permitiria novas leituras para o romance, não só naquilo que concerne  ao feminino, mas também sobre o caráter e a figuração de Carlos Eduardo, bem como da função do encontro dessas personagens no romance. Essa cena, além de constituir uma nova visão sobre o caráter de Maria Eduarda, possibilitando enxergar as dificuldades de uma personagem feminina desfavorecida financeira e socialmente, promove outros questionamentos, por exemplo, por que o narrador permite que essa personagem conte a própria história? Ou ainda, quais as implicações dessa narração para o enredo do romance, para a constituição de Maria Eduarda ou, de forma surpreendente, de Carlos?

 

Palavras-chave: Personagem, Feminino, Romance.

 

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PARCE SEPULTIS

Danilo Silvério (USP-UFABC)

A tradição crítica, no caso d’Os Maias, costuma imputar à personagem de Maria Monforte substancial responsabilidade pela tragédia incestuosa do romance. Nesse sentido, esta breve análise busca se debruçar sobre a narrativa, a partir de uma perspectiva crítica que estabeleça as relações entre a forma do romance e o processo social Regenerador em curso, a fim de entender por que é possível atribuir a responsabilidade sobre a tragédia incestuosa muito mais ao comportamento empedernido de Afonso da Maia (um aristocrata em que reside a reserva moral do romance, conforme defende parte da crítica) do que a Maria Monforte (uma burguesa, filha de um negreiro). Para tanto, além de tomar o romance como uma elaboradíssima representação do processo social em curso naquele período histórico, será preciso recorrer não só aos estudos antropológicos de Norbert Elias, em que ele traduz as relações e os códigos de conduta na sociedade de corte, mas também à profunda pesquisa histórica de Arno Mayer, que, por sua vez, descreve com perspicácia as relações entre as classes sociais ao longo do século XIX e suas implicações para o movimento da história, num contexto de ascensão da burguesia em meio à resiliência aristocrática. Assim, será possível estabelecer as devidas relações teóricas para que, enfim, fique elucidada a hipótese aqui presente.

Palavras-chave: Aristocracia, Burguesia, Tragédia.

 

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UMA BUSCA POR SINCRONIA: OS MAIAS E O CONTEXTO DO CAPITALISMO PORTUGUÊS

Giuliano Lellis Ito Santos (USP)

Eça de Queirós definiu Os Maias como uma vasta machine, o que nos leva a refletir sobre as engrenagens da narrativa do romance. Nesse sentido, busco entender a relação entre a forma romanesca e o processo de modernização político-econômico português. Assim, parto da ideia de que o regime capitalista, no qual se inseria Portugal tardiamente, gera desigualdades, que podem ser percebidas através dos procedimentos artísticos representados no romance. Minha hipótese é de que haja uma discrepância temporal entre os modos de vida português e o capitalismo. Para entender melhor esse cenário, busco verificar como, em algumas cenas de Os Maias, fica patente o embate discursivo, no qual podemos depreender semânticas temporais diversas, entre elas estão uma visão revolucionária, uma conservadora, uma cíclica, etc. Pretendo me apoiar nessas análises para demonstrar como o processo de modernização português se deu por meio de um sistema de dessincronia, que o romance busca equilibrar o tempo todo.

Palavras-chave: romance, capitalismo, tempo.

 

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A “CIVILIZAÇÃO” EM OS MAIAS: MODO DE USAR

Hélder Garmes (USP)

A presente comunicação se volta para os usos da palavra “civilização” e suas derivações (civilizado, recivilizado, civilizar, civilizador) no romance Os Maias (1888), de Eça de Queirós, em suas 46 ocorrências. Tem por propósito investigar até que ponto o campo semântico que recobre o emprego dessa palavra no romance se apresentava de forma crítica para o autor, tendo em vista que, cinco anos depois, publicará o conto “Civilização” (1892) e, mais tarde, irá transformá-lo no romance A cidade e as serras (1901), revelando uma certa obsessão por esse tema. Em Os Maias, a palavra “civilização” e suas derivações apresentam um conjunto bastante complexo de significados, positivos e negativos. Além disso, o peculiar recorte aqui proposto envolve a delicada questão do incesto presente no romance, o que gera inevitavelmente a pergunta: como interpretar, da perspectiva cultural, o rompimento consciente do paradigma civilizatório do incesto no contexto finissecular oitocentista português, como fez Carlos da Maia? Tudo indica que a resposta a essa questão é algo que o romance também busca contemplar.

Palavras-chave: Eça de Queirós, Os Maias, Civilização.

 

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COMO DAR A VER/LER OS MAIAS: UMA EXPERIÊNCIA

Isabel Pires de Lima (ILCML– Universidade do Porto)

Pretende-se dar testemunho de uma experiência de curadoria de uma exposição que teve lugar entre 30 de novembro de 2018 e 18 de fevereiro de 2019, na Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), intitulada “TUDO O QUE TENHO NO SACO…”  - EÇA E OS MAIAS.Tratar-se-á de evidenciar que estratégias conteudísticas e expositivas foram seguidas  (documentação, textos e imagens), para apresentar o romance como charneira no que à interrogação da singularidade da prática realista do autor diz respeito, na diversidade de facetas que comporta e no diálogo que não rejeita com o esteticismo. Os Maias constituiu o pivot dos 7 núcleos, não sujeitos a uma estrita organização cronológica, agregadores da mostra (1888 – A vasta máquina!; Aprendizagens; Guerra ao Romantismo!; Norma e Desejo; Olhares Cruzados;  A Arte é Tudo;  Lugares). Foi dada atenção ao conjunto da obra do autor, a partir das obras ficcionais (em especial as romanescas), que todavia não deixaram de entrar em diálogo com a obra cronística e epistolográfica. Foi também contemplada a biografia e as geografias física e ficcional do escritor. Do modus faciendi de tudo isto a comunicação procurará dar conta.

 

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PROJETO E HISTÓRIA DA PUBLICAÇÃO DA EDIÇÃO CRÍTICA DE OS MAIAS NO BRASIL

José Carlos Siqueira (UFC)

Em 2018, o Grupo Eça (GE) realizou seu III Encontro Internacional em Fortaleza, no campus da Universidade Federal do Ceará (UFC). Em decorrência da presença de pesquisadores de Portugal, foi proposto um protocolo de cooperação entre a UFC, a Universidade de Coimbra e a Imprensa Nacional-Casa da Moeda para que se publicasse no Brasil a Edição Crítica das Obras de Eça de Queiros, coleção dirigida pelo prof. Carlos Reis. Como passo inicial, escolheu-se o opus magnum de Eça para testar a cooperação e conhecer a os resultados da iniciativa. Esta comunicação visa apresentar o projeto editorial desenvolvido no Brasil, relatar a história do primeiro título publicado, Os Maias, e a recepção da Edição Crítica pelo público leitor e estudiosos. Também serão discutidas as futuras publicações e sua forma de divulgação e distribuição no país, uma vez que a continuidade do projeto está em andamento e com programação para próximos títulos a partir de 2022.

Palavras-chave: Os Maias de Eça de Queirós, Edição Crítica, projeto editorial brasileiro.

 

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EM TORNO DO ORIENTE N’OS MAIAS

José Carvalho Vanzelli (UFPR)

 

Esta comunicação intenciona traçar considerações em torno das referências orientais que surgem no romance Os Maias (1888), de Eça de Queirós (1845-1900). Conforme já exposto aos membros do Grupo Eça em reuniões particulares, parto da hipótese que Os Maias condensa em suas páginas as diversas formas como Oriente aparece em outros textos ficcionais e não-ficcionais do autor, podendo ser lido como uma espécie de resumo das várias facetas que o orientalismo queirosiano assume. Assim, este trabalho tem como objetivo primário expor essa conjetura ao público geral. Entretanto, ciente da impossibilidade de explorar a contento tal proposta dentro dos limites que uma apresentação oral nos traz, proponho centrar a análise nos elementos orientais presentes na descrição da “Toca”, principal espaço em que se desenvolve a relação amorosa dos protagonistas Carlos da Maia e Maria Eduarda. Pretendo averiguar como o orientalismo presente neste cenário dialoga com espaços e relações adulterinas de outras ficções queirosianas, como as de Rytmel e Condessa de W, em O Mistério da Estrada de Sintra (1870); Teodoro e Vladimira, em O Mandarim (1880); entre outras. 

Palavras-chave: Oriente, orientalismo, Eça de Queirós.     

 

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MARIA MONFORTE E NINA MENESES – OS ELEMENTOS ESTRANGEIROS

Juliana Rodrigues Salles (UFBA)

Temos em Os Maias, de Eça de Queirós, e em Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso, representações de árvores genealógicas compostas de pares de uma mesma natureza local e social, mas as mulheres encontram-se em papeis secundários. Nesse sentido, a harmonia das famílias só será destruída com a chegada das “estrangeiras” Maria Monforte, em Os Maias, e Nina,  em Crônica da Casa Assassinada. Duas criaturas de genealogia pouco esclarecida em que pouco se mostra sobre suas genitoras ou demais membros familiares, situação que destoa completamente dos ideais familiares tradicionais dos Maias e dos Meneses. O desenvolvimento dos romances torna perceptível que o esfacelamento moral e social das duas famílias se acentua a partir do encantamento dos homens com essas mulheres de ascendência misteriosa ou “manchada”.  A “invasão” de Monforte e Nina no seio dessas famílias representa o ponto de fuga, a quebra da hierarquia masculina, das regras impostas pelo sistema patriarcal. Tanto Nina quanto Monforte são pontos de ruptura entre um passado conservador e a chegada de um futuro inevitável. Elas representam a certeza da não perpetuação das tradições familiares centenárias, do rompimento de regras seculares e, portanto, o esfacelamento das famílias. Com Nina, haverá conflito entre todos os habitantes da Chácara, que já não tinham relações muito estreitas. Com Monforte, o rompimento de Pedro da Maia com o pai, Afonso da Maia.  O objetivo desta leitura é fazer uma investigação dos pontos em comum entre essas duas personagens distantes no tempo e no espaço, mas próximas na responsabilidade involuntária de tragédias, promotoras dos choques que resultam na dissolução de mundos arcaicos.

 

Palavras-chave: Invasão, ruptura, dissolução

 

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DIÁLOGOS ENTRE O ESPAÇO E A HISTÓRIA: ANTAGONISTAS D’OS MAIAS

Márcio Jean Fialho de Sousa (UNIMONTES)

Tendo como corpus de análise o romance Os Maias, de Eça de Queirós, publicado em 1888, vale a reflexão já a partir dos parágrafos iniciais, visto que, em geral, costumam exercer a função de caracterizar os espaços principais e o ambiente da ação das personagens, mas que, a partir do diálogo que Eça de Queirós propõe na construção do enredo, apresenta questões-chave que, de certa maneira, antecipam pontos a serem desenvolvidos no decorrer da narrativa. Como bem afirma Carlos Reis (1999), a História inscreve-se no discurso da ficção de Eça de Queirós como elemento ideologicamente atuante. Nesse sentido, atentar-se ao que é dito e, mais ainda, ao não dito, mas presentes pelas marcas da história, e também dos espaços demarcados por ela, contribuem, indubitavelmente, para uma melhor compreensão dos textos queirosianos. A partir dessas observações é possível perceber que o diálogo entre espaço e perspectivas ideológicas merece um novo olhar por meio de novas investigações. Logo, a proposta desta comunicação é apresentar um estudo que analise algumas cenas de Os Maias, de Eça de Queirós, onde o espaço possa ser identificado de modo a evidenciar muito mais que uma adjetivação, marcada pela efemeridade do tempo, mas que reverbere aspectos completamente conscientes do narrador frente a uma contextualização ideológica, histórica e crítica. Nesse sentido, buscar-se-á evidenciar como as marcas do espaço se misturam aos aspectos da história e das relações culturais ancoradas no registro da narrativa, articulosamente, selecionadas e relacionadas de modo a promover a polifonia crítica no texto queirosiano. Como arcabouço teórico para esta análise, serão utilizados estudos de Carlos Reis (1999), A. Campos Matos (2014), Álvaro Lins (1959) entre outros.

Palavras-chave: Os Maias, Espaço, História.

 

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OS MAIAS DE EÇA DE QUEIRÓS E LE DOCTEUR PASCAL DE EMILIO ZOLA: ESTRANHAS COINCIDÊNCIAS LITERÁRIAS

Maria Cristina Pais Simon (Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3 - CREPAL)

Em 1888, Eça de Queirós publica Os Maias, última obra das Cenas da Vida Real ou Cenas da Vida Portuguesa. Focalizando-se na história pessoal dos representantes masculinos das três últimas gerações da família e de muitas outras personagens que vão surgindo (ao todo, umas 60), o autor, que já renunciou aos seus ideais e entusiasmos juvenis, pretende deitar para este romance ‘tudo o que (tem) no saco », ou seja, sob pano de fundo político, social, literário, científico ou cientista, bem como através de perfis sentimentais e psicológicos, aventuras amorosas fatais, exprimir o sentimento de desilusão e de decadência que domina Portugal nas últimas décadas do século XIX, e que se resume neste desabafo do protagonista Carlos da Maia ao amigo Ega : « Falhámos a vida, menino ». Em 1893, Emílio Zola, que conhecia Eça e a sua obra, dá à estampa Le Docteur Pascal, último livro da série Les Rougon-Macquart – Histoire Naturelle et sociale d’une famille sous le Second Empire, em que pretende dar uma conclusão à história de cinco gerações de que o Dr. Pascal é o último e infeliz rebento. Constatam-se, porém, nestes ‘romans à thèse’, que apesar de nem sempre privilegiarem temáticas idênticas, imensas similitudes, não só ao nível da intriga, mas também da arquitetura das obras, dos perfis sociais e psicológicos, da importância, para a economia e orientação dos romances, dos contextos político-sociais em que se inserem, citando somente os principais aspetos. O objetivo desta comunicação é pôr em relevo a matéria comum dos dois romances e tentar entender o seu porquê num momento em que a circulação de ideias, de livros, de jornais, as viagens… estão em plena expansão e em que o mundo editorial se vai tornando sempre mais cosmopolita.

 

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OS MAIAS: ESPAÇO, ALEGORIA, SÍMBOLO

Maria Eduarda Vassallo Pereira (CLEPUL)

O romance Os Maias poderia terminar no final do penúltimo capítulo, com a frase que o fecha. Ega, duplo funcional de Carlos, despede-se para sempre de Maria Eduarda: «E foi assim que ele [Ega], pela derradeira vez na vida, viu Maria Eduarda, grande, muda, toda negra na claridade, à portinhola daquele vagão que para sempre a levava.» A história de amor entre Carlos e Maria Eduarda conclui-se com a separação definitiva; a fracção da vida de Carlos da Maia que é narrada no romance, e dá ensejo à acção principal, chega ao seu termo. O capítulo XVIII retira o herói da tragédia romântica a que pertence para o repor no espaço da cidade que deixara dez anos antes. A outra linha romanesca de Os Maias, a figuração da sociedade de Lisboa/capital através dos espaços que sucessivamente habita, é retomada. Na visita de Carlos e Ega ao Ramalhete, o valor simbólico da tragédia individual é, por sua vez, jogado contra a alegoria do tempo português de oitocentos. A destruição do espaço da casa de família é mostrada na acumulação de objectos sem continuidade de uso que resulta na «promiscuidade de um lixo». Se na promiscuidade se actualiza o tema do incesto involuntário, a casa do Ramalhete é a alegoria da «casa portuguesa» que sucessivas formulações e tentativas políticas não podem transformar, e estas são igualmente objectos acumulados e sem uso. A tragédia romântica do incesto revela-se também no espaço que alegoriza a tragédia do tempo histórico português e a ela fica unida. O espaço define o romance que se intitula Os Maias; o capítulo que o encerra revela ainda, de novo, este facto.   

 

Palavras-chave: Espaço, Alegoria, Símbolo.  

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A METÁFORA EM OS MAIAS NA CONSTRUÇÃO ESTILÍSTICA DAS PERSONAGENS SECUNDÁRIAS

Maria Serena Felici – Università degli Studi Internazionali di Roma (UNINT) 

Na sua Introdução à Leitura d’Os Maias (1978), Carlos Reis localiza, no romance de 1888 de Eça de Queirós (1845-1900), diversas simbologias que desempenham a função literária de antecipadores dos sucessivos desenvolvimentos do enredo: desde o escarlate-sangue da sombrinha de Maria Monforte, que aponta para o suicídio de Pedro, ao lírios que murcham na casa de Maria Eduarda, como acontecerá também ao seu amor com Carlos (REIS, Introdução à Leitura d’Os Maias, Coimbra, Almedina, 2006, pp. 93-94). Com efeito, a obra apresenta uma considerável componente figurativa, dada pelas próprias simbologias e pelas metáforas que recorrem dentro do texto. Este trabalho propõe recolher estas últimas, selecionando aquelas que o autor refere às personagens secundárias ao fim de compor um quadro tristemente cômico da alta sociedade lisboeta, destinada a levar o país à ruína: assim, a Dâmaso Salcede Eça associa constantemente verbos como “estourar”, “estalar” (QUEIRÓS, Os Maias, Lisboa, INCM, 2017, pp. 201 e 392); à condessa de Gouvarinho relaciona o campo semântico do murchamento ao escrever que tem um “tom de folha de outono amarelada”, e que o barulho da sua saia faz “um ruge-ruge de folhas secas” (Ibidem, p. 322); ao Alencar, atribui a isotopia da morte, descrevendo-o como “face escaveirada, olhos encovados [...] em toda a sua pessoa havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre” (Ibidem, p. 201). Através da análise dos elementos que compõem as metáforas e da sua formulação linguística, demonstrar-se-á que, através delas, o escritor cria paródias e reforça, dentro do texto, a imagem de um Portugal incapaz de ir ao encontro da modernidade.  

 

Palavras-chave: Metáfora, Ironia, Os Maias.

 

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OS MAIAS: ENTRE A MODERNIDADE E O MODERNISMO

Monica Figueiredo (PPGLV-UFRJ/CNPq)

 

O presente trabalho pretende revisitar Os Maias a partir do pensamento de Walter Benjamin, na tentativa de o aproximar das considerações feitas pelo filósofo alemão sobre as relações mantidas pela literatura e o espaço urbano. Para tanto, a série de escritos destinados à análise das relações estabelecidas pela poesia de Baudelaire e a Paris do século XIX serão aqui convocados com a intenção de problematizar a Lisboa percorrida por Carlos da Maia, procurando destacar que, se a Lisboa da Regeneração não era Paris, de algum modo, ela também foi palco das primeiras transformações operadas pela Modernidade vivida a partir da segunda metade dos oitocentos. Cabe perguntar como a paisagem urbana de perto interferiu na construção de um livro que, não só foi um divisor de águas na obra de Eça de Queirós, como igualmente representou uma mudança estrutural na feitura do romance realista. Creio que Os Maias são, a seu modo, uma espécie de livro das Passagens construído em ausência por uma escrita incontornável que deu forma a uma narrativa capaz de elaborar uma flânerie a partir da ruína da memória de seu autor. 

 

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DE AUSÊNCIAS E VESTÍGIOS: A ESCRAVIDÃO NAS NARRATIVAS QUEIROSIANAS

Paulo Motta Oliveira (USP/CNPq)

 

A última carta de Fradique Mendes, publicada nas Últimas páginas, traz uma questão interessante. Se o pretenso autor faz várias considerações sobre o Brasil,  na imagem que constrói do país há uma ausência evidente: a escravidão. O país descrito não parece ser o Brasil oitocentista, pois os escravos dele não fazem parte. Em oposição a esta carta, a escravidão é um elemento importante em Os Maias, pois todo o enredo do livro é fruto do casamento de Pedro com a negreira Maria Monforte. Tendo estas duas obras como balizas, pretendemos discutir sobre as ausências e os vestígios da escravidão em parte da obra ficcional de Eça de Queirós.

 

Palavras-chave: Romance, Eça de Queirós, Escravidão

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DISPOSITIVOS DA DISSONÂNCIA: A FIGURAÇÃO DE CARLOS E EGA N’OS MAIAS

Raquel Trentin Oliveira (UFSM)

 

Geralmente relacionados a uma filosofia do desengano ou da desilusão, a ironia, o grotesco, a multiperspectivação fazem d’Os Maias (1888) uma “obra aberta”, que desafia seus leitores a revisitarem-na e a atualizarem seus sentidos. Alguns dos mais importantes estudos críticos sobre esse romance de Eça de Queirós têm apontado dissonâncias e ambiguidades que perpassam a obra. Na minha última leitura d’Os Maias, estimulada pelo debate promovido no Grupo Eça, foi justamente a ambiguidade na figuração das personagens protagonistas que mais ganhou vulto. Então, proponho, nesta ocasião, um estudo dirigido para os dispositivos retórico-discursivos e de conformação comportamental (REIS, 2014), que servem à caracterização de Carlos Eduardo da Maia e João da Ega em diversas cenas do romance e vão, gradual e dinamicamente, expandindo a imagem dissonante dos dois, na tentativa de entender, em última instância, como tal figuração contribui para a crítica promovida por Eça de Queirós à sua própria geração e ao Portugal seu contemporâneo. Por certo, essa proposta não se revela assim tão inovadora, mas é válida especialmente por garantir o discernimento e a análise de mecanismos textuais específicos que sustentam determinada promoção ideológica e que, muitas vezes, costumam ser tratados por alto ou mesmo ignorados.  

 

Palavras-chave: Os Maias, figuração da personagem, dissonância.

 

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TOMÁS DE ALENCAR ENTRE ‘LIRISMOS RELAMBIDOS’ E ‘QUEIJADAS’

Rosana Apolonia Harmuch (UEPG)

Este trabalho objetiva estudar Tomás de Alencar, um dos muitos personagens escritores criados por Eça de Queirós. Presente ao longo dos muitos anos em que se dá a ação do romance Os Maias, Alencar oportuniza ao seu criador uma série de reflexões sobre a literatura e em especial sobre a poesia. Se, como afirma Maria Filomena Mónica, o século XIX português é o que nos foi legado por Eça de Queirós, o mesmo vale para a literatura do período. Compreender, portanto, os efeitos da constante presença de Alencar é refletir sobre a produção literária do período, inclusive a do próprio Eça.

 

Palavras-chave: Tomás de Alencar, Eça de Queirós, personagens escritores.

 

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OS MAIAS - A MISÉRIA PORTUGUESA PELA PERSPECTIVA DO ESPAÇO LITERÁRIO QUEIROSIANO

Rosane Gazolla Alves Feitosa (UNESP/Assis)

O realismo-naturalismo queirosiano consolidou determinados procedimentos técnico-literários, dentre os quais a supremacia da observação, como procedimento metodológico para uma crítica social de tendência reformista, O espaço, visto como categoria narrativa de inegáveis potencialidades de representação, pode ser entendido como signo ideológico. Nosso objetivo é comentar a estratégia narrativa de Eça de Queirós que se vale da descrição e da presença no espaço narrativo em Lisboa de “objetos”/monumentos/espaços públicos que se situam na Baixa Pombalina _ Rossio, monumento aos Restauradores; Avenida da Liberdade. Estes funcionam como caracterizadores do espaço narrativo em interação com outros signos, reiterando e enfatizando a crítica nos aspectos social, econômico, histórico. Integram, artisticamente, a proposta da Geração de 70 – produzir arte com finalidade social à la Pierre-Joseph Proudhon – ou seja, ter o propósito de reformar a sociedade burguesa de Lisboa, mostrando o lado decadente, da sociedade portuguesa _ a miséria portuguesa. Nosso apoio teórico se fará com Isabel Pires de Lima, Carlos Reis, Aniceta de Mendonça, Roland Barthes, M.Bakthin, J. A. França, P. Hamon. Nosso procedimento de comentários se dará por meio do detalhamento do percurso dos espaços públicos de Lisboa, localizados particularmente na Baixa Pombalina, resgatando o espaço-tempo ficcional da sociedade portuguesa, explicitando indícios da decadência portuguesa. Concluiremos mostrando que o espaço narrativo queirosiano apresenta-se como um elemento integralizador da diegese, na medida em que provoca no leitor a sensação de autenticidade proposta pelo Realismo e evidencia que não é apenas um ato estético _ projeta-se no comportamento e no estado de espírito das personagens.

Palavras-chave: Os Maias, Eça de Queirós, Espaço Literário. 

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JOÃO DA EGA, AUTOR E NARRADOR D’OS MAIAS (UMA PROVOCAÇÃO!)?

Silvio Cesar dos Santos Alves (UEL)

O presente trabalho, sem a pretensão de apresentar alguma verdade definitiva sobre a obra em questão, buscará apenas ensejar uma provocação. Terá sido João da Ega o verdadeiro narrador do romance Os Maias? O romance, como se sabe, é um paradoxo, do ponto de vista das perspectivas narrativas nele em jogo. Um narrador onisciente na primeira parte, e na segunda, o predomínio da focalização interna. Eça de Queirós não repetiria essa configuração em narrativas mais longas, pois narrativas dessa extensão não voltariam a ser publicadas pelo autor. Suas narrativas anteriores (romance, novela, conto) traziam ou narradores heterodiegéticos, ou narradores homodiegéticos. O romance Os Maias é um eclipse nesse sentido. No entanto, se a narrativa heterodiegética naturalista se configurava como produto essencialmente fantasista, muito embora pautado em documentos (informações previamente coletadas pelo autor) e submetido a certos procedimentos científicos da época, como a observação e a experimentação (e aqui as intermitências da ciência deixava muita margem para as especulações da fantasia), a narrativa autodiegética deveria construir um lastro ontológico do qual o narrador fosse verdadeiro espelho, sob o risco de colapsar, do ponto de vista da verossimilhança (como é possível afirmar que ocorre tanto em O Mandarim como em A Relíquia). É verdade que na segunda parte do romance Os Maias a primeira pessoa nunca assume a perspectiva narrativa, toda ela entregue à focalização interna. No entanto, nas intermitências dessas focalizações (e mesmo no seio delas), tudo o que é apresentado ao leitor tem como base uma experiência ontológica singular, perfeitamente compatível com aquela que se evidencia nas focalizações atribuíveis ao personagem João da Ega, e somente a ele. Mesmo na segunda parte do romance, os momentos de onisciência pertencem sempre às vivências particulares desse personagem (segredos que somente ele poderia saber). Tudo o mais é passível de caber no seu repositório particular de informações (pois era sempre muito curioso e muito bem informado). Todos os segredos desse romance podem ser atribuídos seja à razão, seja à imaginação do personagem João da Ega, e somente ele. Por esse motivo, pergunto-me se não seria verdadeiramente João da Ega o narrador d’Os Maias. Mas, não caberia a esse “personagem” somente o estatuto de narrador. A configuração da história narrada, as perspectivas escolhidas para narrá-la (um verdadeiro paradoxo) e os valores que informam a narrativa (mesmo na parte predominantemente heterodiegética, pois Ega é o maior defensor do Naturalismo na obra) todos remetem para a entidade ficcional denominada João da Ega, que, por isso mesmo, adquire, a meu ver, estatuto de autor. E sendo ao mesmo tempo entidade ficcional e autor, considero-o, como Fradique, uma espécie de heterônimo.

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A CONFIGURAÇÃO DO RAMALHETE D’OS MAIAS: DIÁLOGOS COM O TÓPOS DO LOCUS HORRIBILIS

Xênia Amaral Matos (CEPCR - Itajaí/SC)

 

A literatura gótica legou às artes uma série de imagens e discursos relacionados ao medo, à monstruosidade, aos espaços opressivos, à morte, etc. Esse campo imagético e retórico é, assim, repaginado através das várias produções góticas da literatura, do cinema, da TV, entre outros; revigorando e ampliando tal estética. Porém, mesmo no âmbito literário, sua influência pode ser “absorvida” por obras que, num primeiro olhar, parecem não dialogar com essa vertente. Por exemplo, apesar de mais relacionado ao realismo-naturalismo, a escrita de Eça de Queirós também está próxima do gótico, como percebido por Sousa (1979) ao analisar os primeiros escritos queirosianos. Contudo, até mesmo em seus romances mais consagrados, como O crime do Padre Amaro (1875), O primo Basílio (1878) e Os Maias (1888), demonstram uma profícua relação com gótico na composição de enredo, personagem e espaço, num processo que ocorre através da retomada de topoi góticos. Isto é, tais narrativas retomam ideias generalizadas e repetidas (CURTIUS, 2013) encontradas nas principais ficções góticas, renovando-as e adaptando-as ao seu contexto. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo analisar como o espaço do Ramalhete, um dos principais espaços d’Os Maias, dialoga com o topoi gótico dos loci horribiles. Para isso, após conceitualizar a noção de topoi góticos e de loci horribilies, apresenta-se como a casa remete a essas imagens e discursos. Para conceitualizar a noção de topoi, teóricos como E. R. Curtius (2013) e R. Barthes e J. Bouttes (1987) serão utilizados, já para as conceitualizações acerca do gótico F. Botting (2014), D. Stevens (2000) e J. França (2017) serão mencionados. Este estudo apresenta parte dos resultados obtidos com a tese de doutoramento O gótico em Eça de Queirós, defendida pela autora em 2019 na UFSM.

 

Palavras-chave: Gótico, Espaço, Ramalhete.

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